quarta-feira, 8 de abril de 2009

090409 - NOTÍCIAS DO PROJETO VERDE VIDA


REISADO NA MEMÓRIA E NO PÉ

Prosseguindo as atividades iniciadas no segundo semestre de 2008, voltadas para o resgate e valorização das manifestações da cultura popular, além da inserção de crianças e jovens no universo da produção cultural, a Ong Verde Vida vem realizando um importante trabalho, especificamente no que diz respeito ao fomento a criação de grupos artísticos de dança contemporânea e regional. O cotidiano da região do cariri do ceará é singular no tocante as manifestações da cultura popular. Comparada a um caldeirão que ferve perenemente, as danças tradicionais são encontradas nas áreas periféricas e mais afastadas da cidade do Crato. Podemos citar como exemplos as mulheres do Coco da Batateira, Coco do Sítio Quebra, bandas cabaçais e diversos grupos de reisados. Todos esses grupos constituídos em sua grande maioria por agricultoras e agricultores, encaram a cultura popular como um fazer cotidiano. Nesse sentido as manifestações realizadas por esses grupos resultam da maneira como enxergam as suas realidades e as objetivam em práticas culturais cotidianas. Pretendendo entender como ocorre esse fazer no dia a dia da cultura popular, o grupo de dança regional do projeto Verde Vida acatou desde o mês de fevereiro a proposta de vivenciar junto a algumas mestras e mestre da tradição popular em dança, como esta se realiza nas comunidades sedes dos grupos. O grupo de dança regional já vem se especializando desde o final do ano passado na dança de Reisado, e agora se fundamenta através de pesquisa em torno da oralidade, como o Mestre Aldenir mantém essa tradição desde que se iniciou no Reisado na década de 50. A nossa captação do conhecimento passado pelo Mestre Aldenir aos seus fiéis seguidores que são em grande parte filhos, netos e vizinhos , se realiza por meio de visitas à casa do Mestre, e também do encontro deste último com as meninas que fazem parte do grupo de dança no espaço da ong, localizado no Sítio Catingueira. As rodas de conversas com o Mestre têm proporcionado experiências sem precendentes para as dançarinas do Reisado Feminino Cova da Nêga do projeto Verde Vida. Nesses encontros as garotas escutam diretamente do Mestre como tudo começou em sua vida como brincante de reisado, as dificuldades enfrentadas na sua trajetória e a maneira como vem passando até hoje o seu saber popular. Outra experiência que o Reisado Cova da Nêga vivencia é a luta de espadas, parte integrante da dança de reisado. O nome do reisado feminino do projeto Verde Vida surgiu de uma homenagem realizada pelo próprio grupo a uma moça, negra, que no tempo da escravidão teria desobedecido a regras impostas por seus donos e como pagamento teve a morte. Essa história pode ser contada de forma mais detalhada por uma das integrantes do grupo:

Antigamente na Catingueira havia um fazendeiro que tinha uma escrava, ela nunca saía, só saía escondida e ia haver um casamento na região, então ela foi ao casamento, ela se divertiu muito e acabou dormindo na cuminheira da casa, e veio a onça e sangrou ela e saiu arrastando até o alto da ladeira que é denominada hoje como ‘ladeira da cova da nêga’, onde hoje existe uma pequena capela”.
(Marineide Alves)

Essa primeira parte de vivências com o Mestre Aldenir já está sendo realizada, e dando continuidade ao projeto de Rodas de Conversas com as mestras e mestres da cultura popular, a próxima etapa acontecerá com o grupo de Dança do Coco do Sítio Quebra. Dessa forma, é acreditando no conhecimento e valorização pelas crianças e adolescentes acerca das manifestações da cultura popular que a ong Verde Vida estimula vivências com as mestras e mestres, na tentativa de contribuir para o não apagamento dessas riquíssimas tradições que fazem parte do legado cultural do povo caririense.


Ridalvo Felix de Araujo

fotos girlandia vieira (81).jpg

Um comentário:

Antonio Alves de Morais disse...

Antonio

Parabenizo pela criação do Blog e desejo muito sucesso.