quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Vitória de uma geração


Votei no Brizola, no Lula, na Dilma. Três personagens da política brasileira ligadas diretamente à ditadura implantada no Brasil com o golpe civil-militar de 1964. Como militante de esquerda, acompanho, não só a nível nacional, mas também e, principalmente, a nível de Crato, o desenrolar dos acontecimentos políticos nos últimos 40 anos. Lembro as candidaturas do Dr. Jósio, do médico Raimundo Bezerra, o também médico Marcos Cunha, da professora Mara, a mais bonita campanha de que participei, e presenciei em minha cidade. Todas com o pensamento e o objetivo de, chegando ao Palácio Alexandre Arraes, possibilitar aos cratenses (principalmente aos menos favorecidos economicamente) uma vida bem melhor. Qualidade na educação, saúde como prioridade, cultura vista como meio de socialização e educação, transparência com a coisa pública.

A minha geração (anos 60) foi testemunha de memoráveis momentos de participação jovem em nosso país – protestos estudantis, diretas-já, anistia, retorno de exilados, movimento fora Collor... Torci bastante para a eleição do inesquecível Leonel Brizola na primeira eleição em que eu votei para presidente (1989). Votei no Lula e presencio agora a eleição de uma mulher para a chefia do executivo nacional nesse 2010. Votei na minha esposa Socorro, na minha filha Cecília, na minha mamãe Conceição. Votei no melhor para o meu país. Votei na minha coerência política e ideológica (Ivan no primeiro turno – PCB e Dilma no segundo).

Para chegarmos aos dias atuais de liberdade de imprensa, democracia em si, foi necessário que muitos jovens (de ambos os sexos) fossem ao confronto com os detentores do poder, poder este tomado do dia pra noite de um presidente eleito democraticamente pelo povo brasileiro e que apresentava, naquele momento, alto índice de aceitação popular. Colocando suas vidas em prol da pátria, derramando seu sangue por um ideal, quantos e quantos não foram torturados, assassinados, mortos em porões do exercito brasileiro! Quantas vidas ceifadas em pleno vigor físico, em plena juventude. É necessário que a atual e futuras gerações saibam das barbaridades cometidas neste país ao longo de 20 anos de atrocidades, perseguições e mortes de muitos brasileiros.

Na atual campanha presidencial – no segundo turno – as mesmas forças que nocautearam a democracia brasileira em 1964 estavam de volta, a mesma direita retrógrada, a mesma ala conservadora da igreja católica, a mesma mídia nociva à nação estavam unidas por um só objetivo: evitar a eleição de uma candidata progressista, identificada com os movimentos populares, continuadora de uma política de inclusão social desenvolvida pelo presidente Lula. Na semana próxima à eleição usaram até mensagem papal – numa atitude de intervenção na política interna do Brasil em assunto de cunho do poder legislativo (no caso, o Congresso Nacional) a questão do aborto. “Sacanearam” o máximo possível com a pessoa íntegra e ética da candidata Dilma Roussef: calúnias, difamações, pornografia... A resposta: Altivez, postura ética, comportamento exemplar, carisma invejável fizeram Dilma, no último dia 31 de outubro “galgar” o posto mais avançado da política brasileira: A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Ataques ainda virão, difamações, perseguição, ofensas pessoais.

Nada, creio eu, abalará o bom desempenho que terá a nossa presidente à frente da chefia da nação. Será um governo para o cidadão. Foi a vitória da verdade contra a mentira, do preconceito machista contra a capacidade feminina de governar, foi a vitória (indireta) de um nordestino contra uma imprensa pessimista, contra um sul preconceituoso e discriminatório, para com um povo honrado e trabalhador, o nordestino, homens e mulheres trabalhadoras.

Como diz Patativa e canta Luiz Gonzaga: “Faz pena o nortista tão forte e tão bravo viver como escravo nas terras do sul”. Valeu Lula, valeu Dilma, valeu povo brasileiro. Foi a vitória de uma geração. A minha geração.

Jorge Carvalho - Professor

Novembro/2010

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